A população quilombola da Comunidade Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento, enfrenta descaso por parte do poder público. A estrada de acesso é precária e não há posto de saúde no local para atender os moradores.
Apesar da riqueza histórica que traz, a comunidade está esquecida pelo poder público, como conta Jéssica Leny da Silva Pinho, presidente da Associação de Moradores.
“Nossa comunidade está totalmente esquecida. A questão de saúde é delicada. Existe a necessidade de um posto de saúde. A cada dois ou três meses a prefeitura manda agentes de saúde na sede da comunidade, que atendem os moradores, mas não temos uma estrutura de saúde fixa no local”, explica.
A comunidade é composta por cerca de 400 descendentes de escravos. O complexo Mata Cavalo é constituído de sete áreas de diferentes fazendas: Ourinhos, Estiva, Aguaçú, Mata Cavalo de Cima, Mata Cavalo de Baixo, Mutuca e Capim Verde.
Existem dificuldades para estruturar a comunidade.
Alguns moradores ainda moram em casas feitas de palha. Poucos barracos possuem banheiro e a água utilizada para beber e cozinhar é retirada em um único poço artesiano.
É uma área de solo fértil e rica em recursos naturais. Os moradores plantam uma cultura diversificada, um pouco de cada coisa: a banana, a mandioca, o milho, o arroz, a batata-doce, a cana-de-açúcar, o feijão, a abóbora, o cará. Mas o forte mesmo é a banana.
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Comunidade quilombola Mata Cavalo
Apesar disso, os produtores da comunidade também enfrentam dificuldades para vender os produtos cultivados.
Para Jéssica, é necessário que o poder público viabilize locais para que os produtos possam ser expostos e comercializados.
“A gente quer criar uma feira para que as mulheres e os homens que produzem na comunidade possam expor os produtos e, assim, termos renda. Produzimos azeite de mamona, a farinha que também é produzida na comunidade, além de quiabo, abacaxi e banana. Atualmente fazemos reuniões no barracão todos os domingos, quando alguns produtos são vendidos. A intenção é ampliar, expor e vender também em Cuiabá, Várzea Grande e outros municípios”, conta.
Assistência aos moradores
No último domingo (14), os advogados Cássia Lourenço e Nilton Lourenço, proprietários do escritório Souza e Lourenço, localizado em Cuiabá, visitaram a comunidade para levar apoio jurídico aos moradores.
A advogada Cássia explica que enquanto os indígenas conquistaram o direito às suas terras ainda na época colonial, por volta de 1934, o direito dos quilombolas só foi reconhecido pela primeira vez na Constituição de 1988. No entanto, a primeira titulação de uma terra quilombola aconteceu 7 anos após a promulgação da Constituição, em 1995.
“Em Mato Grosso, faz ainda menos tempo que conquistaram esse direito de ter uma terra para eles. Então, é importante que eles tenham conhecimento de seus direitos e até onde podem chegar”, pontua.
Surgimento de Mata Cavalo
A comunidade quilombola de Mata Cavalo é um dos grupos remanescentes de escravos em Mato Grosso que mais tem se esforçado na luta pela conservação de suas tradições e de suas terras, no embate contra fazendeiros e grileiros.
Na época da escravidão, o transporte de mantimentos era realizado por carros de boi e cavalos carregados. Para fazer o abastecimento de Poconé, a tropa (grupo de transportadores) precisava atravessar um córrego, que enchia no período chuvoso. Um dia os cavalos não conseguiram passar e foram carregados pela correnteza. Os animais morreram e a córrego ficou conhecido como o Córrego que Mata Cavalo. Como a comunidade quilombola fica no entorno do córrego, recebeu o nome do mesmo.
Um dos moradores mais ilustres da comunidade foi Antônio Benedito da Conceição, conhecido como Antônio Mulato. Considerado o homem mais idoso de Mato Grosso, ele morreu em 2018.